03 abril 2012

INCOERÊNCIAS DO PROJETO ORLA


Notícias sobre o Projeto Orla, que pretende revitalizar da Usina do Gasômetro até a foz do arroio Cavalhada, na avenida Diário de Notícias, totalizando quase seis quilômetros, nos permite fazer alguns questionamentos.   

Ao contrário de outros projetos como o Pontal do Estaleiro e o Cais Mauá, que mesmo gerando polêmica fizeram usos de mecanismos democráticos, como audiências públicas e encontros informais com a população, o projeto em questão não se utiliza destes trâmites, pois realiza a contratação de uma empresa pelo método do “notório saber”.  

Este método de contratação reduz as possibilidades de sugestões da população e também infere a incompetência de profissionais locais na participação deste projeto. Ou seja, ao contratar uma empresa sob este argumento, exclui-se totalmente a oportunidade de arquitetos porto-alegrenses apresentarem seus projetos.

A empresa contratada para a revitalização do Projeto Orla foi a Jaime Lerner Arquitetos Associados, de Curitiba - PR. Solicitada nas condições de “notório saber”, o projeto, entre outras coisas, pretende transformar parte da Praça Júlio Mesquita (localizada em frente ao Gasômetro) em um estacionamento, o que denota o desconhecimento da empresa sobre a história de Porto Alegre, pois esta área está localizada sobre um sítio arqueológico.

Quando se discutia a construção do projeto Cais Mauá foi realizado um concurso público, justamente por se tratar de uma área pública, e que veio a ser vencido pela equipe 
coordenada pelo arquiteto Jaime Lerner. Já no caso do Projeto Orla a ausência de concurso público para escolha de um projeto em área pública coloca em xeque a lisura e a transparência de uma obra tão importante para Porto Alegre. Além de limitar a participação de outras empresas na elaboração de projetos altenativos, aumentando a opção de escolha da população sobre o que seria melhor para ela.

A história nos mostra que a participação popular em obras no entorno da orla do Guaíba sempre foi efetiva. A construção da chaminé da Usina do Gasômetro, em 1937, foi um anseio da comunidade, pois a fumaça e as fuligens prejudicavam moradores vizinhos. E então se pediu a sua construção. E quando a desativaram, em 1970, pensaram em demoli-la. Mas mais uma vez a sociedade se mobilizou e impediu.

Fiquemos atentos e vigilantes a este projeto que está sendo gestado na surdina. As diretrizes apontadas mostram um projeto ultrapassado e sem participação da população. Fato que recriminamos, pois não é feito à luz da democracia, com a participação do povo, sendo este um projeto para o povo.

Jac Sanchotene
Coordenadora do Movimento Viva Gasômetro


Construção da chaminé da Usina do Gasômetro em 1937

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